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Estaremos a dar importância ao sexo?


Dr. Fernando Mesquita, sexólogo


Podemos falar de sexo? Afinal, é ele o motor das relações e um dos pilares fundamentais que, ao longo do tempo, sustenta a ligação entre duas pessoas


O sexo é uma das bases da relação do casal. Mas estaremos nós a dar-lhe a devida importância? Não nos estaremos a esquecer dele na lista das prioridades do dia a dia? Que impacto pode ter a sua ausência na vida de um casal? Reunimos as respostas dos especialistas e revelamos-lhe tudo o que sempre quis saber sobre o tema. Está preparado?


Os estudos comprovam. Os especialistas confirmam. E nós podemos testar! Os benefícios do sexo não se refletem apenas nos nossos níveis de bem-estar, mas também na nossa imagem (ficamos mais bonitas e autoconfiantes), na nossa saúde (ajuda a prevenir doenças), na nossa energia (os desafios tornam-se mais fáceis) e na nossa relação (sentimo-nos mais ligadas ao nosso parceiro, mesmo que na hora antecedente tenhamos acabado de discutir).


A libertação das hormonas do prazer, nomeadamente da ocitocina, conhecida como sendo a hormona do amor, a par da de serotonina, a hormona da felicidade, que ocorre durante o sexo, podem tornar os nossos dias realmente mais felizes e, a longo prazo, podem reverter-se numa saúde mais robusta, numa aparência mais jovem e numa vida mais plena.


Por que não deve descurar o sexo


As necessidades e as expetativas sexuais variam de pessoa para pessoa e de acordo com múltiplos fatores que influenciam o desejo sexual. A idade, a duração da relação e, no caso das mulheres, a fase do ciclo menstrual são alguns exemplos relevantes. Por esta razão não é de admirar que, quando perguntamos aos especialistas «Quão importante é o sexo na vida de um casal?», tenhamos uma resposta unânime.


«Depende!», afiançam. A verdade é que não podem existir regras universais nem números fixos. Cada casal é único. No que toca à frequência sexual, por exemplo, a sexóloga Marta Crawford alerta que «mais importante do que olhar para o número de relações sexuais que o casal tem, é perceber se aquelas são de qualidade ou não».


«O sexo para ser bom não tem de acontecer três ou quatro vezes por semana, tem sim de ser de qualidade», afirma a sexóloga. Nas suas consultas de terapia de casal, Marta Crawford aconselha os casais a encararem a sexualidade como «um menu de degustação». Este é, segundo a especialista, um dos truques mais eficazes para estimular o desejo, aproximar o casal e obter uma vida sexual mais satisfatória.


«O casal deve saber aproveitar o sabor de um beijo ou de uma carícia, com tempo e sem pressões», elucida a sexóloga, realçando a importância da sexualidade no fortalecimento de uma relação. «O sexo é a bateria que recarrega as energias do casal e que vai ajudá-lo a enfrentar os desafios da vida», acrescenta.


O sexólogo Fernando Mesquita também vê a sexualidade como uma peça fundamental na esfera do casal. «O sexo é muito importante para criar uma sensação de ligação que pode reforçar os sentimentos de satisfação sexual e relacional», sublinha o especialista.


Quando o sexo passa para segundo plano


A falta de sintonia entre o casal e o desencontro de expetativas é um dos principais motivos que levam os casais a afastarem-se e a deixarem o sexo para segundo plano. Se, numa fase inicial do relacionamento, a novidade e a descoberta fazem com que o sexo seja a prioridade para os dois membros do casal, quando a relação estabiliza e a aventura da paixão se converte na previsibilidade do amor, o sexo deixa de estar na primeira linha dos desejos e necessidades do casal.


«Geralmente, na primeira fase do namoro, há um maior estímulo para a sexualidade. Nesta fase de conquista, a primeira prioridade é a vida sexual. Contudo, quando a relação começa a ficar estável e, principalmente, quando o casal começa a coabitar, a rotina que se instala diminui o desejo sexual e acaba por afastar os casais», constata a ginecologista Maria do Céu Santo, especialista em medicina sexual.


Mas a rotina não é a única responsável por este afastamento. A realidade difícil de gerir está relacionada com as necessidades sexuais do homem e da mulher, que variam bastante. «Normalmente, os homens têm mais desejo do que as mulheres», refere Marta Crawford.


«Geralmente, nos primeiros tempos de uma relação, a paixão, o desejo e a descoberta fazem com que o casal esteja em sintonia, mas ao final de algum tempo, são raros os casais que permanecem em sintonia. E é aí que reside o grande problema dos casais, no que toca à sexualidade», revela ainda a sexóloga.


Disfunção sexual ou disfunção de vida?


Com a rotina que se instala, ao fim de algum tempo no dia a dia do casal e, mais tarde, com a chegada dos filhos, muitas mulheres deixam de olhar para si enquanto mulheres e passam a ser exclusivamente mães. Este novo papel rouba-lhes tempo e disponibilidade mental para o sexo mas, de acordo com os especialistas, com as estratégias certas, é possível recuperar o desejo e voltar aos primeiros tempos da relação, já não de uma forma permanente, mas momentaneamente.


«Uma relação de longa data ideal deve caracterizar-se por picos de estabilidade e picos de paixão. Os picos de loucura típicos da fase da paixão são fundamentais para alimentar e oxigenar a relação ao longo do tempo», refere Maria do Céu Santo. O primeiro passo a seguir é reorganizar a sua rotina, de forma a que tenha tempo de qualidade para si e, posteriormente, para o seu parceiro.


«Muitas vezes, não há uma disfunção sexual no casal, mas sim uma disfunção de vida. As pessoas vivem completamente anestesiadas pela rotina e o sexo exige disponibilidade física e mental, requer energia que a maior parte das pessoas não tem», alerta a especialista.


Outro passo importante é reconhecer que a relação não está bem e procurar ajuda. «É importante que o casal não permita que as dificuldades se cristalizem. Quando as coisas se tornam mais complicadas, procurar a ajuda de um terapeuta sexual não deve ser motivo de vergonha», alerta Fernando Mesquita.


Quantidade é melhor do que qualidade?


Será que quanto mais sexo, melhor? Um estudo, publicado na revista científica Social Psychological and Personality Science, diz que não. O número mágico é nada mais que uma vez por semana. Isto vem contradizer aquilo que, durante décadas, se pensou ser verdade. Antes, o grau de felicidade de um casal e a estabilidade da sua relação eram avaliados pelo número de vezes que faziam amor.


Segundo Amy Muise, investigadora que liderou a pesquisa, a frequência dos envolvimentos sexuais deixou de ser um critério no cálculo da felicidade de um casal. Para chegar a esta conclusão, Muise analisou as respostas de mais de 25 mil norte-americanos a um inquérito que circulou entre 1989 e 2012. E constatou que, independentemente da idade e do sexo, os entrevistados disseram que fazer amor mais de uma vez por semana não lhes trazia mais felicidade.


A verdade é que temos menos sexo do que os nossos pais e não só. Queremos ter relações sexuais de melhor qualidade e queremos sentir-nos seguras. De acordo com um estudo publicado no Archives of Sexual Behavior, que analisou o número de parceiros sexuais de 33 mil pessoas, as da geração Y, nascidas entre meados da década de 1970 e meados da década de 1990, têm menos parceiros sexuais e fazem amor menos vezes do que as da geração dos pais.


A autora do estudo «What Is Behind the Declines in Teen Pregnancy Rates?», Heather D. Boonstra, ajuda a explicar esta tendência. Entre 1988 e 2013, o número de adolescentes e jovens-adultos sexualmente ativos caiu 14 por cento nas raparigas e 22 por cento nos rapazes. Porquê? Afinal a educação sexual tem algum efeito na consciência dos mais jovens.


Mais de 80 por cento dos entrevistados, em 2013, disseram que tinham receio de contrair doenças sexualmente transmissíveis e sabiam que usando contraceção e tendo menos parceiros sexuais corriam menos riscos. Em 1988, apenas 70 por cento admitiram usar um método contracetivo com regularidade.


8 benefícios do sexo


Saiba por que deve aproveitar sempre que a vontade oportunidade surgir:

1. Ajuda a relaxar e a lidar melhor com situações stressantes.

2. Sacia os centros de recompensa no cérebro tanto como o chocolate.

3. Queimamos cerca de cinco calorias por minuto.

4. Rejuvenesce a nossa aparência.

5. Previne constipações e a gripe, porque ajuda a produzir anticorpos.

6. Fortalece os músculos pélvicos, prevenindo a incontinência mais tarde.

7. Reduz a probabilidade de o seu parceiro desenvolver cancro da próstata.

8. Casais que estão juntos há vários anos fazem amor mais vezes do que os indivíduos que têm múltiplos parceiros.


Por: Sofia Santos Cardoso com Filipa Basílio da Silva, Madalena Alçada Baptista, Margarida Figueiredo e Rita Caetano – Saber Viver

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