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Há uma idade para parar de fazer sexo? Perguntámos a um sexólogo

Da menopausa à sexualidade na terceira idade, o psicólogo clínico e sexólogo Fernando Mesquita, desmistifica os maiores clichés sobre o tema.


Ana Rita Rebelo, LIFESTLYLE - NOTÍCIAS AO MINUTO



As mulheres na menopausa não sentem desejo, todos os homens na terceira idade têm disfunção erétil e quem tem uma sexualidade ativa nesta fase da vida é promíscuo? É inegável que ainda existem muitas crenças comuns no que toca ao sexo após os 50 anos. Toda a gente repara, comenta e para alguns a única reação é corar. Mas será a idade um fator impeditivo para se ter prazer?


É também sabido que, com o avançar da idade, ocorrem grandes mudanças no corpo. No entanto, isso não deve ser visto como um entrave. "A sexualidade é uma parte importante da vida em todas as idades", afirma o psicólogo clínico e sexólogo Fernando Mesquita, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.


"É fundamental quebrar estereótipos e preconceitos em relação à sexualidade nesta população, reconhecendo a sua importância para o bem-estar de todas as pessoas, independentemente da idade", defende o especialista, que participa este sábado, 11 de março, na talk 'Menopausa e Sexualidade by Wells' no Women Aging Summit, o primeiro evento em Portugal totalmente dedicado ao envelhecimento feminino, que decorre até domingo na Central Tejo, em Lisboa.


Considera que é tabu falar-se de sexualidade em Portugal?


Sim, sobretudo quando se procura falar sobre sexualidade junto da população mais idosa. É entre os mais velhos que encontram ainda mais preconceitos.


É suposto existir uma espécie de reforma para o sexo?


Infelizmente, ainda prevalece a ideia de que as pessoas mais velhas não têm interesse ou capacidade de ter uma vida sexual ativa. No entanto, a sexualidade é uma parte importante da vida em todas as idades. É essencial que as pessoas mais velhas tenham acesso a informações e recursos que lhes possibilitem ter uma vida sexual saudável e satisfatória. Por isso, é fundamental quebrar estereótipos e preconceitos em relação à sexualidade nesta população, reconhecendo a sua importância para o bem-estar de todas as pessoas, independentemente da idade.


Há uma idade para se parar de fazer sexo?


Se houver vontade e se as condições de saúde assim o permitirem, não existe limite para a sexualidade.


Que mitos existem em torno do sexo na terceira idade?


Os mais comuns são que a sexualidade diminui ou desaparece com a idade, que as mulheres na menopausa não têm desejo sexual ou que sexo é para procriação e que devem cessar a sua vida sexual. Corre também a ideia de que todos os homens na terceira idade têm disfunção erétil, que o sexo é perigoso para as pessoas mais velhas e que todos os idosos que têm uma vida sexual ativa são promíscuos.


Porém, diversos estudos têm comprovado que o sexo na menopausa, por exemplo, pode ter benefícios.


Sim. Uma sexualidade saudável poderá trazer diversos benefícios, tais como ajudar a aliviar alguns sintomas da menopausa, reduzir o risco de doenças cardiovasculares, aumentar o bem-estar emocional e a fortalecer a relação amorosa, caso exista.


Qual o real impacto da menopausa na sexualidade?


Antes mesmo disso, gostaria de sublinhar que cada mulher é única e pode vivenciar esta fase de forma diferente. Além disso, a sexualidade é influenciada por diversos fatores, tais como a qualidade da relação amorosa, caso exista, o estado de saúde geral e as experiências sexuais anteriores. Posto isto, alguns dos efeitos mais comuns, mas não obrigatórios, que podem afetar a sexualidade na menopausa são:

  • Diminuição do desejo sexual. Com a redução da produção de certas hormonas, como é o caso do estrogénio, pode existir uma diminuição do desejo sexual e da excitação sexual. Por outro lado, também existem relatos de mulheres que indicam precisamente o oposto;

  • Secura vaginal. Mais uma vez, face à diminuição dos níveis de estrogénio é comum existir secura vaginal, tornando a relação sexual desconfortável ou dolorosa;

  • Redução da sensibilidade genital. Com a diminuição da circulação sanguínea na região genital pode existir uma redução da sensibilidade sexual;

  • Alterações no orgasmo. Algumas mulheres relatam uma maior dificuldade em atingir o orgasmo e que os mesmos são mais fracos ou menos frequentes após a menopausa. No entanto, também existem relatos de mulheres que indicam precisamente o oposto.


O que é que se pode fazer para contornar sintomas como falta de desejo, secura e perda de elasticidade vaginal?


Existem várias opções, tendo em mente que cada mulher é única e que deverá procurar a mais indicada para o seu caso. Os tratamentos de reposição hormonal podem ajudar a aliviar diversos sintomas da menopausa, incluindo a secura vaginal e a perda de desejo sexual. Por sua vez, os tratamentos a laser podem ser uma grande ajuda para restaurar a elasticidade e a hidratação vaginal, melhorando a saúde vaginal, e o uso de lubrificantes e hidratantes vaginais a reduzir a secura vaginal e a tornar a relação sexual mais confortável. A prática de exercícios do assoalho pélvico, também conhecidos como exercícios Kegel, podem ajudar a fortalecer os músculos vaginais e a melhorar a elasticidade vaginal. Já a terapia sexual é indicada para ajudar mulheres ou casais a lidarem com problemas sexuais decorrentes da menopausa e a melhorar a sua saúde sexual em geral. Por fim, um estilo de vida saudável, com especial cuidado com a alimentação e a prática de exercício físico regular, pode ajudar a melhorar a saúde geral e a saúde sexual.


Quais são os benefícios do tratamento de reposição hormonal para as mulheres?


Os resultados variam muito de pessoa para pessoa. Algumas mulheres referem um alívio dos sintomas da menopausa, tais como sudorese noturna, calores, secura vaginal, irritabilidade, insónias e fadiga, enquanto outras não sentem grande diferença.


Todas as mulheres podem fazê-lo?


Este tratamento pode ter efeitos colaterais, tais como o aumento do risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral, coágulos sanguíneos e cancro da mama. Portanto, antes de se iniciar o tratamento, é importante falar com um médico.


Que mudanças podem os casais fazer para se adaptarem às novas exigências do corpo da mulher?


Não se limitando ao período da menopausa, todos os casais devem procurar alimentar uma comunicação aberta e honesta das suas necessidades, desejos e preocupações em relação à intimidade, para que possam encontrar soluções em conjunto, procurar informação adequada sobre as mudanças no corpo e como estas podem afetar a intimidade, e explorar novas formas de intimidade, como carícias, massagens, toques ou outras atividades que sejam prazerosas para ambos. Devem também respeitar as mudanças no corpo, incluindo a necessidade de um tempo extra para a excitação e a intimidade, assim como qualquer desconforto ou limitação física, e procurar ajuda especializada.


É possível aumentar o desejo?


A diminuição de desejo sexual pode ser de causa multifatorial, por isso é importante procurar ajuda de um médico ou terapeuta sexual para identificar a causa e o melhor tratamento.


E por parte da mulher, qual o papel que lhe cabe? O autoconhecimento é fundamental?


Sem dúvida. De acordo com diversos estudos, as mulheres que têm um melhor autoconhecimento do corpo, das suas necessidades e da forma como tirar prazer dele, são as que têm uma vida sexual mais gratificante.


E quando as relações são iniciadas numa fase mais madura? O que aconselha?


Depende muito das próprias pessoas e da forma como foram vivendo a sua própria sexualidade. O mais importante é que estes casais não façam da sexualidade um tema tabu, que muitas vezes acaba por ser um 'elefante na sala', que apenas serve para os afastar cada vez mais.


Que dúvidas é que as mulheres e casais nesta fase da vida mais lhe colocam?


Nesta faixa etária ainda há muitas pessoas que procuram ajuda para tentar perceber se é 'normal' ter vontade ou desejo sexual a partir de determinada idade. Estas crenças erróneas estão muitas vezes presas a tabus que, infelizmente, ainda limitam e preocupam muitas pessoas.


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